quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O dia de amigáveis


O jogo desta noite vem em excelente altura. Corrijo: um jogo deste calibre, vem sempre em boa altura. Nunca são demais os jogos em que, num mesmo campo de futebol, se juntam alguns dos melhores jogadores do mundo. E a oportunidade de os ver em acção é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada. No entanto, peço-vos, que não se centrem exclusivamente no jogo que opõe Portugal e Argentina. Bem sei, o coracção nestas alturas bate mais depressa e impele-nos para que colemos os olhos num ecrã onde Ronaldo exiba as suas cavalgadas, Meireles exulte aos gritos o seu amor pela pátria e onde cada corte em carrinho de Bruno Alves seja uma demonstracção de paixão lusitana pela nossa bandeira. Porém, e volto a pedir-vos, não párem de viajar esta noite. Rogo-vos para que consigam estar em França à hora do histórico França-Brasil, imploro-vos para que apanhem um avião rumo ao Cairo para que não percam o duelo entre a melhor equipa africana (Egipto) versus a melhor das Américas, que não a do Sul (EUA).

Agasalhem-se e voltem a embarcar. Desta vez rumo à Dinamarca, onde a equipa local mede forças com um opositor de tremendo poderio, a Inglaterra. Um exercício, este jogo. Mais que não seja para que se perceba o quão resistentes podem ser os nórdicos frente a uma selecção de calibre semelhante à nossa. Não esgotem o entusiasmo em terras geladas: é altura de voltar a recorrer ao zapping do vosso televisor, pôr à vossa frente uma enorme cerveja gelada, e acompanhar passo a passo as incidências do Alemanha-Itália. De um lado, a melhor escola de futebol europeia do momento, a Alemanha, pejada de jovens e excitantes valores e, do outro, a Itália, que dá, sempre, a sensação que, fazendo uso da sua histórica matreirice, pode vencer em qualquer campo.

Meia hora depois, em França, Luisão dá os últimos conselhos a Hulk. Possivelmente estará a passar-lhe a mensagem do que é jogar pela canarinha. Possivelmente estará a acalmar o monstro, a atrasar a caixa de Pandora que ele revela ser sempre que deixa o demónio apoderar-se de si. O monstro sai, e vira o jogo ao contrário. Quando aprender a domar-se a si próprio, estará pronto. Até lá, vez às bicicletas de Robinho, à imponência de David Luiz e aos slaloms de Michel Bastos.

Repito, já um pouco cansado: hoje, viajem sem parar!Lista de todos os jogos de hoje:

Escócia-Irlanda Norte
Andorra-Moldávia, 15:00
Arménia-Geórgia, 15:00
Bielorrússia-Cazaquistão, 15:00
Grécia-Canadá, 15:00
Irão-Rússia, 16:00
Letónia-Bolívia, 16:00
Macedónia-Camarões, 16:30
Croácia-Rep. Checa, 16:45
Azerbaijão-Hungria, 17:00
Egipto-EUA, 17:30
Israel-Sérvia, 18:00
Turquia-Coreia Sul, 18:00
África Sul-Burquina Faso, 18:35
Albânia-Eslovénia, 19:00
Estónia-Bulgária, 19:00
Dinamarca-Inglaterra, 19:15
Luxemburgo-Eslováquia, 19:15
Bélgica-Finlândia, 19:30
Malta-Suíça, 19:30
Holanda-Áustria, 19:30
Polónia-Noruega, 19:30
Alemanha-Itália, 19:45
Argentina-Portugal, 20:00
França-Brasil, 20:00
Espanha-Colômbia, 20:30


José Borges

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Se falta algo em La Masía, são...


Avançados. A eleição de Xavi, Iniesta e Messi como os três melhores jogadores do mundo de 2010 serviu como o reconhecimento final à cantera do Barcelona. La Masía, centro de formação do clube catalão, produziu nas últimas décadas alguns dos melhores futebolistas que, não só serviram para o crescimento dos culé, como foram cruciais para o crescente domínio espanhol no panorama mundial. A filial da primeira equipa já forneceu defesas (Piqué, Bartra...), centrocampistas (Busquets, Thiago...), extremos (Messi, Pedro...). mas...e avançados?!

A média de idades dos seis homens que compõe a frente de ataque do plantel da filial do Barcelona é de 23,33 anos, quase três a mais do restante conjunto secundário (20,4). A diferença é demonstrativa da dificuldade que o clube sente para encontrar, em idades de formação, jogadores que sirvam para a posição "9". O problema foi resolvido nos últimos anos contratando jogadores mais experimentados e, por isso, mais velhos que os restantes. Só Bojan logrou subir à primeira equipa, mas a sua participação não é mais que irregular.

Rochina (19 anos): O mais jovem dos seis, mas o que mais tempo leva nos escalões de formação azul e grená. É O terceiro avançado mais utilizado por Luís Enrique. Em 13 aparições esta época, apontou 2 golos. Neste mercado de inverno correu o rumor de que o Blackburn estava interessado em contar com os seus serviços.

Benja (24 anos): O Barça contratou-o ao Réus, depois de ter estado ligado a outra equipas catalãs, Espanyol incluído. 6 jogos completos e apenas 1 golo.

Sául Berjón (24 anos): Um dos reforços para a corrente temporada. Chegado do Las Palmas, onde era indiscutível, apesar de apenas contar com 8 golos em 64 partidas.

Jonathan Soriano (25 anos): Deu o salto do Albacete para o Barcelona Athletic em 09/10. É um avançado formado no Espanyol, mas foi na equipa da 2.ª divisão espanhola que se mostrou. Tem, esta temporada, um golo a cada 125 minutos (10g em 16j).

Nolito (24 anos): É aquele que mais minutos tem na filial. Jogador habilidoso que chegou a Barcelona em Julho de 2008, proveniente do Écija. Segundo máximo goleador da equipa - 7 golos em 19 jogos - acaba contrato em Junho, e a sua partida é mais que ponto assente, tendo inclusive rejeitado uma proposta de renovação e a promessa de subir à equipa principal.

Edu Oriol (24 anos): Chegou em 2009 procedente do St. Andreau. Em 11 jogos marcou um golo. Com 1,74m, é um avançado demasiado pequeno em tamanho e talento quando a intenção é o fabrico de "noves puros".

A busca por esse 9, dizem, já começou.

Porque não consegue o Barça exportar avançados, o típico 9, para a primeira equipa? A que se deverá esta discrepância em relação a outras posições? Vê algum jovem valor que pudesse ser trabalhado nesta autêntica fábrica de bom futebol?

José Borges

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Necessitará o City de Edin Dzeko?


Nos dias que correm, o Manchester City assemelha-se mais a uma agência de financiamento ou de contabilidade, que a um clube de futebol. Com a recente transferência de Dzeko para os citizens, é importante, de hoje em diante (ainda mais se fores um agente de futebol), saber aquilo que a equipa ainda não tem. Porque parece ter tudo, em doses exageradas.

É claro que as suas marcas são impecáveis: 66 golos em 111 aparições na Bundesliga. No entanto, e recorrendo a exemplos do passado, verificamos que marcar golos em catadupa nem sempre é sinónimo de sucesso quando se troca de campeonato. Shevchenko e Kezman - só para citar alguns que alinharam em Inglaterra (Chelsea) - também chegaram com marcas insuspeitas, mas cedo se percebeu que não lhes iriam dar continuidade. Um exemplo mais próximo chega-nos através do "Super" Mário Jardel, que com os seus 130 golos em 125 jogos pelo Porto, passou 7 jogos em branco quando esteve ao serviço do Bolton.

Os críticos irão argumentar que o campeonato alemão é muito semelhante, com a velha táctica de bola na frente que tantos clubes germânicos praticam. Em contraponto, observa-se que o Wolfsburgo se organiza num esquema semelhante ao do City (4-5-1 ou 4-3-3), com Dzeko como ponta da lança alemã, secundado de perto por Diego e Grafite. Ediz Dzeko tem então tudo para se sentir "em casa", já que, na sua nova equipa, a companhia na frente será ainda melhor, com David Silva e Carlos Tévez a completarem o tridente. O meu problema, porém, reside aqui. Adebayor, Ballotelli e Jô são, os três, o mesmo tipo de jogador, típicos homem alvo: força, técnica e bons no jogo aéreo. Parece-me uma tarefa hercúlea manter todos estes jogadores felizes ao mesmo tempo. A batalha que travam pela integração de Ballotelli parece-me perdida desde o início, pois o seu mau temperamento e desrespeito pelo jogo continuam a ser evidentes. A Jô, na minha opinião, nunca foram dadas oportunidades ou tempo para fazer algo de espectacular. Marcou por 44 vezes em 77 aparições no CSKA, numa liga que é quase tão rápida e ríspida como a Premier League. O facto de se ter juntado ao City com tenra idade, associado ao seu local de nascimento, parecem não ter contribuído para que o jogador aparecesse mais que esporadicamente na primeira linha do conjunto inglês.

Para finalizar, o curioso caso de Adebayor. Mantido a todo o custo no plantel na temporada passada, foi votado ao esquecimento assim que os novos ricos da liga inglesa chegaram a acordo com o bulldog argentino, Carlitos Tévez. Agora, e face à actual situação do togolês, parece-me ser um excelente negócio para que o desejar levar de Inglaterra. Por fim, acredito que o Manchester City esteja já de olho noutro atacante para compensar a provável partida de Tévez, constantemente atacado pela saudade do país natal. Apostaria algumas fichas em como esse novo avançado chegará, mais uma vez, do campeonato alemão, onde a popularidade dos seus jogadores cresce a olhos vistos.

Se me perguntassem o nome desse jogador, afirmaria sem hesitação: Lucas Barrios. O leitor poderá agora achar que me estou a contradizer devido às estatísticas do naturalizado paraguaio (27g em 49 jogos) mas, este prolífico avançado, é da mesma linha latino-americana de que é feito Tévez. Perseguindo bolas e causas perdidas, ele pode acrescentar muito - e de forma mais barata -, que os preços combinados de Adebayor (25M £), Jô (18M £) , Ballotelli (24M £) e agora Dzeko (27M £)

A que se deve esta apetência e gula do City por avançados? Caminho mais curto para o sucesso? Que falta realmente a esta organização para construir uma história em Inglaterra e na Europa?

José Borges

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A razão para a Bundesliga envergonhar a Premier League


Na Alemanha, o adepto é rei. A Bundesliga tem os bilhetes mais baixos e as melhores médias de assistência nos seus estádios entre as 5 maiores ligas europeias. Todos os fins-de-semana, o Signal Iduna Park vai abaixo com as 80.552 pessoas que, freneticamente, apoiam o Borússia de Dortmund. Todas elas tem um motivo extra para estarem felizes: o preço do bilhete não ultrapassa as 10 libras. Os clubes alemães limitam o número de lugares anuais para terem a certeza de que todos tem a oportunidade de ver os jogos da sua equipa favorita e, a equipa visitante, detém 10% dos direitos da capacidade do estádio em dia de jogo. Os adeptos viajam até estes jogos debaixo de uma atmosfera acolhedora, elevando as suas gigantes canecas de cerveja, tostando salsichas, sentindo-se desejados. Algo que o comum adepto inglês apenas disfruta nos seus melhores sonhos.

A Bundesliga é, provavelmente, a competição mais saudável financeiramente a nível europeu - sustenta-se apenas com a liga doméstica, apesar de há 9 anos que uma equipa germânica não vence a Liga dos Campeões. Fazendo uma pequena incursão pelas equipas fora da Alemanha, observa-se o declínio de algumas delas: o Portsmouth caminha para a extinção; o Liverpool e o Manchester United amontoam divídas. Em Espanha, registam-se dezenas de casos de jogadores de divisões inferiores com salários em atraso. Em Itália, as assistências nos seus estádios já viram dias melhores e em França, os clubes gastam mais do que aquilo que lucram.

"Nós possuímos uma situação muito interessante. Em primeiro lugar, os bilhetes são baratos. Em segundo, os clubes limitam o número de lugares anuais. Se tiveres vendido entre 80% e 100% desses bilhetes, serão sempre as mesmas pessoas no estádio. Além disso, a equipa visitante contribui sempre para que o recinto encha, pois detém 10% dos direitos dos lugares em dias de jogo", afirma Christian Seifert, chefe-executivo da Bundesliga.

O ano passado La Liga atraiu uma média de 28,478 pessoas por jogo, Ligue 1, 21,034, a Série A, 25,304 e a Premier, 35,592. Estes números são facilmente eclipsados pelos incriveis números dos alemães: 41,904. Estes números em alta são acompanhados por uma abordagem equilibrada aos salários. "O volume de negócios do ano passado foi de 1,7 bilhões e lucro de 30M €, em que os clubes da Bundesliga recebem menos do que 50%da receita em salários dos jogadores", diz Seifert. Este é o valor no continente mais baixo. Em 2007-08 [o ano mais recente disponível], a Premier League pagou 62%.

Toda a gestão financeira é prudente, apesar de o rendimento da Bundesliga em termos televisivos ser um modesto 594M € em comparação com retorno lucrativo da Premier League de 1.94 biliões de €. Seifert explica a disparidade. "O mercado de TV na Alemanha é muito especial. Quando a TV paga apareceu, em 1991, a média dos agregados familiares já recebia 34 canais de graça. Por isso, tivemos o mercado de TV livre mais competitiva no mundo, e isso influenciou muito o crescimento da televisão por assinatura. Fomos obrigados a mostrar todos os 612 jogos da Bundesliga e Bundesliga II na TV paga. Então, tivemos que arcar com os custos de produção."

Nenhuma equipa da Bundesliga ganhou a Liga dos Campeões desde que o Bayern de Munique venceu o Valência em 2001 e, o seu último finalista, antes do Bayern em 2010,foi o Bayer Leverkusen, há oito anos.Seinfert volta a ter a palavra sobre se os baixos valores arrecadados com os direitos televisivos tiveram influência neste facto. "O Bayern de Munique está entre os quatro primeiros clubes da Europa. É preciso ter em mente que, mesmo o Chelsea, que gastou um monte de dinheiro nos últimos anos, não ganha a Champions. Às vezes você pode ter a sensação que a capacidade de vencer a Champions League, está em consonância com a sua vontade em gastar um monte de dinheiro para apetrechar a equipa. Por isso eu acho que a Uefa está na rota certa com a sua ideia de fair play "financeiro".

Pressionado sobre a falta de sucesso de clubes alemães na mais importante competição de clubes da Europa, Seifert defende a natureza cíclica do desporto. "No final da década de 1990 a Bundesliga foi a liga forte da Europa. Em 1997, ganhou a Liga dos Campeões [Borussia Dortmund] e a Taça UEFA [Schalke]." "Em 1999, 2001 e 2002 estivemos na final, pelo menos. Naquela altura, a Premier League tinha mais dinheiro, mas o sucesso não depende apenas de dinheiro, mas a qualidade que você tem. Se ele só dependesse de dinheiro, o Porto e o Mónaco não teriam jogado a final de 2004."

Seifert também aponta noutra direcção para o sucesso do futebol alemão: produção dos seus próprios jogadores. Esta afirmação é corroborada pela Alemanha, campeã europeia em sub-17, sub-19 e sub-21. "A Bundesliga alemã e a F.A tiveram uma decisão acertada há 10 anos atrás, quando decidiram que, para obter uma licença de clube de 1.ª divisão, é obrigatório a construcção de uma academia. Cinco mil jogadores, com idades entre 12-18 são lá educados. Isso permite que haja mais dinheiro para gastar com os jogadores que são comprados, e há uma maior chance de comprar melhor, mais do que a média, os jogadores "

De todos os regulamentos da Bundesliga, a história recente do futebol inglês sugere que ela poderia ter beneficiado mais com a regra dos 50+1 (é uma regra aplicada ao desporto alemão em que os investidores nos clubes do país não podem deter mais que 49% dos direitos financeiros da institição). Isto indica que os dirigentes de um clube devem manter pelo menos 51% da propriedade, evitando assim que qualquer entidade exerior assuma o controle. O Portsmouth é o exemplo mais gritante de como uma pessoa de fora pode potencialmente arruinar um clube - o administrador está actualmente à procura do seu quinto dono desta temporada.

Martin Kind, presidente do Hannover, quis mudar o regulamento. "A regra significa a perda de capacidade de muitos clubes da Bundesliga para competir nacionalmente e internacionalmente e ,de certa forma, impede um maior desenvolvimento do futebol alemão, especialmente aqueles clubes que jogam na metade inferior da Bundesliga. A regra de propriedade deve ser abandonada ou modificada".

A Bundesliga é um exemplo a seguir, e já deu provas de que está pujante financeiramente. E não falo só do Bayern de Munique. A prova está que a conquista do campeonato alemão nas últimas 5 épocas foi bem repartida. Também nos últimos 3 anos, houve três vencedores diferentes na Taça nacional.

Sepp Herberger, o treinador que em 1954 estava ao leme da selecção alemã que conquistou o Mundial, é peremptório: "Sabe porque é que as pessoas vem ao estádio? Porque nunca sabem qual será o desfecho do jogo a que estão a assistir".

Apoia o modelo da Bundesliga? Acha que em Portugal teria viabilidade? Dinheiro é sinónimo de sucesso?

José Borges

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O melhor Nápoles desde Maradona!


Edison Cavani disfrutou da melhor noite da sua carreira enquanto a sua equipa, o Nápoles, destruía a Juventus. Walter Mazzarri dispôs os homens que tinha ao seu serviço no seu já habitual (e arriscado) sistema de três defesas, quatro centrocampistas, e dois homens no apoio ao já citado Cavani (3-4-2-1). Gigi Del Neri ficou preso ao 4-4-2, com Luca Toni a estrear-se na formação de Turim, e ao lado de Amauri. É perigoso atribuir demasiada importância e atenção às "formações". "Formações" não são sinónimo de "tácticas"- há numerosos factores a ter em conta quando se pretende debater a estratégia de uma equipa.


Este jogo, no entanto, é um perfeito exemplo de como uma formação pode levar a melhor sobre outra usando termos simples. A base preferida de Mazzarri é o 3-4-2-1 mas, a excelente forma dos jogadores que a executam, leva o treinador do Nápoles a alterá-la subliminarmente de jogo para jogo - algo que ele tem feito com bastante sucesso. Frente ao 4-4-2 da Juventus, o 3-4-2-1 funcionou na perfeição, como prova o resultado dilatado do último jogo do Nápoles.


Defesa

O trio defensivo é mais eficaz quando se depara com um conjunto de dois atacantes contrários. A falta de dois laterais atacantes foi uma das razões para que, nos últimos cinco anos de Série A, fosse tão raro ver este sistema de 3 defesas. O referido sistema é usualmente vulnerável à circulação vagabunda de executantes como Quagliarella (que está lesionado até ao fim da temporada) mas, com a falta dele, Mazzarri certamente que se congratulou pela presença de dois "postes" estanques como Amauri e Toni, deixando liberto um dos seus centrais para limpar as bolas que sobravam e com a possibilidade de incorporar umas dessas torres no ataque aéreo à grande área dos bianconeri.


Flancos

Os flanqueadores do Nápoles (Maggio e Dossena) fizeram o seu trabalho - deram algo extra ao ataque dos seus companheiros, e aprisionaram os extremos da Juventus na fase de construcção do seu jogo. A relutância de Krasic em ter um papel na manobra defensiva, permitiu a Dossena dizer presente com assoduidade no ataque pelos flancos.


Meio-Campo

A zona central do centro do terreno foi um 2 vs 2, mas o duo do Nápoles tem muito mais conhecimento entre si e coesão do que o da Juve. Del Neri dá preferência a um tipo de ligação como a que existe no Milan, com Pirlo e Gattuso - neste caso, Aquillani e Filipe Melo, que é um destruídor...não só de jogo adversário. Como Melo estava ausente (porque seria?), quem alinhou no meio foi Marchisio, não conferindo a combatividade que o brasileiro acrescenta. Até por aqui o Nápoles se agigantou ao gigante.


Avançados

Os três atacantes napolitanos foram tão eficazes como sempre, com destaque para a movimentação de Lavezzi entre o lado esquerdo do ataque, e a posição atrás do ponta-de-lança, fixando Grygera cá atrás. Marek Hamsik dá profundida à equipa, jogando numa posição mais central, embora não se coibisse de dar trabalho a um dos laterais da Juventus, o jovem Traoré. Contudo, o seu papelo não se esgota aqui. Mais do que emprestar discernimento e magia a este conjunto, não raras vezes se observa que a movimentação do seu jogo passa muito pelo recuo até ao meio-campo para auxiliar o duo acima referido, ganhando o Nápoles superioridade numérica (3 vs 2).


Golos frente à Juventus

Os três golos chegaram todos da mesma forma: cruzamentos já dentro da área dos de Turim, com os dois primeiros a sairem dos pés dos seus flanqueadores. Além de não acompanhar as subidas de Maggio e Dossena, a Juventus viu-se impotente para controlar Cavani, a estrela do momento em Nápoles. As conclusões do uruguaio foram estupendas mas, como a Juve tinha um homem a mais dentro da área, deveria ter sido marcado de outra forma.

Dito isto, seria injusto afirmar que Luca Toni não lutou com as armas que tem (a sua estreia foi positiva, e provou que ainda é dos melhores avançados quando o confronto fisíco assim o exige), mas foi ofuscado pelo brilho do melhor marcador da prova: Edison Cavani!

Conclusão

O 3-4-2-1 é um dos sistemas na Europa mais excitantes do momento, tendo sido este um jogo perfeito para o demonstrar. Mais uma vez. Um homem nas sobras na defesa, energéticos e inesgotáveis corredores nas laterais, coesão no centro, discernimento perto da área e depois...bem, depois é Cavani.

Será esta Nápoles capaz de alcançar a glória na liga local? Chegará o plantel actual para sonhar com a final da Liga Europa? Recordo que foi noticiado que está a ser negociado Cissokho, actual Lyon e ex-F. C. Porto

José Borges

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Milan aos meus olhos

Nas últimas temporadas, e ao contrário das análises de muitos experts, adoptei uma postura crítica em relação ao principal campeonato italiano de futebol, a Série A. O sucesso do Inter na passada campanha da Liga dos Campeões, fez com que muitos afirmassem, com toda a certeza, que isso reflectia a qualidade e evolução do futebol em Itália. No entanto, a actual época, mostra o contrário. O Milan é líder mais pela aparente fragilidade dos outros, do que pela sua (que é inequívoca e indesmentível) qualidade.




Olho para esta equipa da capital da moda italiana da mesma forma que olhava para o Inter de Mancini. Raramente se vê uma jogada bem trabalhada pelos homens do meio-campo, envolvendo a participação de vários jogadores. O Milan não passa de um conjunto que é razoavelmente bem estruturado tacticamente, em que os seus jogadores, fruto da imensa experiência adquirida, se posicionam bem, contando, e é assim que resolvem a maior parte dos seus jogos, com os lampejos de génio dos homens da frente, nomeadamente do gigante sueco Ibrahimovic.



Mas será esta realidade de Ibra-dependência suficiente para obter sucesso a nível europeu? Dificilmente. O próprio Inter de Mancini provou que não. Aliás, se Benítez tivesse conseguido manter o nível da equipa emprestado pelo saber de Mourinho, seria, inclusive, muito complicado que os rossoneri triunfassem na liga doméstica. Em Fevereiro, o Milan terá uma prova de fogo frente a uma das mais excitantes formações do velho continente, o Tottenham. Hoje, mesmo com alguma debilidade demonstrada em alguns jogos da Premier League, acredito que o clube londrino é mais confiável e sólido a nível europeu que o gigante de Milão. É um exercício de fácil imaginação observar mentalmente as loucas cavalgadas de Gareth Bale a destronar os lentos corredores defensivos do Milan, as triangulações de Modric e Van der Vaart a deixarem com os cabelos em pé o perro meio-campo italiano, a astúcia de Defoe a torcer os rins dos centrais milaneses.



As dúvidas respeitantes à competência do Milan na principal competição europeia, num ano em que as equipas inglesas apresentam um decréscimo de qualidade e influência no panorama europeu, demonstra a actual fragilidade do Calcio.


Conseguirá este Milan ter sucesso na Liga dos Campeões? É nesta altura um adversário mais forte que o Tottenham, actual quarto classificado na liga inglesa? Chegará o quarteto da frente dos rossoneri para triunfar?



José Borges

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Freddy Adu: Tomahawk americano que nunca explodiu


(Escrevi edte texto quando Adu estava no Aris, na Grécia. Hoje soube-se que está à experiência num clube da 2.ª divisão alemã)

Cães raivosos. Freddy Adu vê-os por toda a parte em Thessalonika. Revolvendo os contentores do lixo num terreno que é seu por marcação. Contentores agrupados à porta de um hotel que foi a sua casa durante dois meses. A segunda maior cidade da Grécia é bonita em vários aspectos: as praias, bons restaurantes, as sedutoras mulheres que por lá se passeiam. Mas, por mais que Adu se esforce, ele não consegue evitar os cães raivosos.

Eles são uma ameça constante na luta do americano para se fixar no futebol europeu. Seis anos depois de ter feito a sua estreia como profissional, aos 14 anos, Adu ainda procura atingir um jogo consistente no Aris, o seu quarto clube europeu em três anos. Ele vive uma dupla-existência. Para a mainstream de adeptos do soccer na América ele permanece como um dos seus melhores executantes. Adu tem perto de 350.000 seguidores no Twitter (mais do que todos os futebolistas no mundo, excepto Kaká). Esteve sentado no sofá de David Letterman, entrevistado durante 60 minutos e ainda viu o seu nome numa das letras de Jay-Z.

Mas a maior das supresas estava para chegar. Adu não estaria na África do Sul. Com a baixa produção apresentada em Portugal e em França antes de chegar à Grécia, algo difícil de prever quando em 2003 ele estava a assinar um contrato de um milhão de dólares com a Nike e a tornar-se o jogador mais bem pago na MLS, mesmo antes de dar um pontapé numa bola na liga norte-americana. Foi apadrinhado por Pelé e apelidado, pelo comissionário da MLS, Ivan Gazidis, de "melhor jogador jovem do mundo".

Há muitas questões sem resposta. O que aconteceu a Adu? Porque mostrou potencial em ligas profissionais de faixa etária baixa, mas falhou quando chegou à Europa? Ainda tem um futuro na selecção americana? Quantas mais oportunidades lhe serão concedidas?


Se até aqui isto soa a uma história tiste, porque é que Tim Howard, guarda-redes titular dos Estados Unidos, mantém a opinião de que "Adu tem capacidades com a bola, que não muitos - se é que algum a terá - futebolistas americanos possuem"? Estará Adu preocupado? "Tenho apenas 21 anoos", responde ele, exibindo o seu sorriso magnético. "As pessoas entram logo em pânico quando as coisas não correm bem. Eu não. Ainda tenho um longo caminho a percorrer mas, sinto que estou na rota certa".


Dia de jogo em Thessalonika. É uma gloriosa noite de primavera, o tempo perfeito para um embate escaldante entre o Aris e o PAOK. À medida que os joagdores marcham até ao terreno de jogo, os movimentos na bancada sugerem que, a qualquer momento, o fogo-de-artifício lançado será mais brilhante que qualquer incidência durante os noventa minutos. Nada nos Estados Unidos - ou na Europa - se assemelha ao ambiente do campeonato grego. "É de loucos aqui", diz Adu. Acreditamos. Desde que Adu e o seu compatriota Eddie Johnson se juntaram ao Aris em Janeiro, o cenário tornou-se mais dantesco ainda.



Que correu mal na carreira de Adu? Foi mal gerida? Não tem o potencial que se lhe descortinava?

José Borges

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Real vence...boletim médico incluído!


Boa notícia em Las Rozas, local onde onde o Real Madrid se treina diariamente. O motivo prende-se com a total recuperação de um dos magos do futebol moderno, um autêntico Zico da nossa era futebolística. O seu nome é Kaká, que voltou a calçar umas chuteiras para participar num jogo a doer na liga espanhola. Foram só 15 minutos, diante do Getafe, mas é expectável que Kaká enfrente os restantes desta temporada como se fossem os primeiros da sua muito titulada carreira.


Boa notícia para José Mourinho, que vê assim alargado o leque de opções para a intermediária atacante dos merengues. Di María está a realizar uma época para lá de fantástica, mas Kaká..é Kaká. Poderá argumentar-se que o fabuloso médio ainda não demonstrou aquilo que vinha fazendo deste que chegou à Europa para jogar no Milan mas, agora, mais do nunca, terá vontade de demonstrar que não perder qualidades.

Foi um regresso emotivo, saudado por muitos. Falcao, avançado do F.C. Porto, fez por exemplo questão de o assinalar no Twitter: «Kaká voltou a jogar depois de tantos meses, uma boa notícia para o futebol.»

Bem-vindo, Kaká!

Poderá o brasileiro voltar ao nível que o notabilizou? Será peça importante no Real no que falta jogar da temporada?

José Borges