quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hulk, a grande figura da liga até ao momento!


"Até o seu pé é inteligente". A frase é de Michel Hidalgo, poeta e antigo futebolista francês do fabuloso Reims dos 50', equipa gaulesa que ousou olhar nos olhos o Real Madrid de Di Stéfano na final da Taça dos Campeões Europeus de 1956. Referia-se a Michel Platini, um dos últimos percursores do belo futebol galo. Platini criou uma relação a dois com a bola mas, acima dessa intimidade, saltava à vista o ar frio e calculista com que abordava cada lance, como se não obtivesse qualquer prazer de estar ali, num campo, com os demais. O francês industrializou-se, colocou as emoções de lado, tornando o seu jogo, mais frio...mais inteligente! Frieza essa que era recebida calorosamente pelos seus companheiros. Não deixa de ser um antagonismo: a frieza humana, correlacionada com a emotividade no relvado. A resenha estava criada, e é de uma nova industrialização que hoje vos falo.

Há poucos meses atrás, Fábio Coentrão deu razão à visão descrita em cima. Dizia ele que "antes só pensava com os pés", dizendo sentir-se hoje um verdadeiro jogador de futebol. O caso é semelhante, e transporta-nos para Hulk. Após a saída de Dí Maria para o Real Madrid tornou-se, inquestionavelmente, o jogador mais desiquilibrador e, acima disso, desiquilibrante para qualquer equipa. O futebol do brasileiro esta temporada funciona como um rastilho que, quando aceso, sabe-se que poderá explodir a qualquer instante. É precisamente isso que têm sucedido, números e estatísticas individuais à parte. Mas é precisamente aqui que queríamos, e devíamos, chegar. Desde cedo emigrado e sujeito a uma nova realidade, Hulk teve a possibilidade de explanar todas as vertentes do seu futebol. No Japão fazia uso da sua técnica e velocidade mas, chegado à Europa, e a um clube habituado à alta roda do futebol europeu, o seu jogo tendeu, e tende a desenvolver o aspecto fisíco mas sobretudo...a inteligência. O "jogo de cabeça" de que falava Coentrão. Os números não mentem: apesar de continuar por limar algumas lacunas no seu jogo (recorde-se os enúmeros exageros quando com bola), o "Incrível",como é apelidado pelos adeptos do Porto, tornou-se no jogador de campo que mais bolas recupera por jogo. Isto é sintomático da razão que nos leva a afirmar o seguinte: Hulk tornou-se um jogador de equipa (não descurando a sua preciosa singularidade, como visto em Guimarães e no Dragão, diante do Benfica), e a equipa finalmente se entregou ao futebol revoltado de Hulk.

Experimentem ver um jogo do Porto desta temporada, e em seguida atentem em qual foi o melhor marcador da equipa o ano que passou, e o que vêm sendo esta época. Fica só a sugestão, mas que julgo ser elucidativa na confiança que a equipa põe no jogo do brasileiro. Resultado da transformação: prémio de melhor jogador do mês de Setembro. Como eu disse, sintomático!

José Borges